domingo, 7 de maio de 2017

Estado Islâmico destrói patrimônios históricos

Carolina Salgueiro

A Guerra da Síria acaba de completar sete anos e para piorar a situação, no mês de abril, os Estados Unidos da América bombardearam uma base aérea síria. O ataque foi surpresa e, segundo o país americano, foi uma represália ao governo sírio pelo bombardeio com armas químicas que matou oitenta e seis pessoas, incluindo trinta crianças. Os desdobramentos do conflito ainda são incertos, mas já causaram milhares de mortes e destruições dos patrimônios históricos.

Além da Primavera Árabe, que é o nome dada à onda de protestos, revoltas e revoluções populares contra os governos do mundo árabe, o terrorismo é outro motivo da eclosão da Guerra da Síria. Entre esses, o Estado Islâmico (EI) é o principal grupo terrorista em território Sírio e, constantemente, choca o mundo ao mostrar decapitações e ao assumir ataques que ocorrem nos grandes centros mundiais.

Os rebeldes armados ocupam províncias importantes dos país, propagam terror ao sequestrar pessoas, destruir prédios da região e patrimônios culturais. Embora relativamente pequena, a Síria detém um dos patrimônios históricos mais interessantes e diversos do mundo, com seis localidades reconhecidas como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

O professor e historiador Rodrigo Ribeiro da rede pública de ensino comentou que todos os patrimônios históricos são de suma importância para a humanidade e seu desenvolvimento, uma vez que todos é por meio deles que a história é contada. “Um patrimônio histórico-cultural é uma herança que recebemos daqueles que vieram antes de nós, e quando avaliamos esses “objetos” eles nos mostram todo um conceito de mundo que existia na época de sua produção”, explicou Rodrigo. Ademais, o historiador abordou as riquezas culturais da Síria que carregam milênios de história, por serem antigas e impactantes. 

A Guerra na Síria tem devastado inúmeros patrimônios históricos no país, mesmo com o apelo do Ministério da Cultura Sírio no início do conflito para que os combatentes os preservassem. Contudo, o cenário poderia muito pior, graças ao trabalho da Direção-Geral de Antiguidade e de Museus do Ministério da Cultura na qual realizou um trabalho preventivo com a transferência de acervos dos museus para depósitos seguros. Com a exceção do museu de Raqqa, não há casos de perdas de coleções inteiras.

Apesar dessa atitude de resultado positivo no meio do caos da guerra, os sítios arqueológicos não tem tido o mesmo destino. A cidade histórica de Palmira, localizada há duzentos e cinquenta quilômetros da capital Damasco foi completamente destruída pelo Estado Islâmico.

Os templos e sítios arqueológicos da cidade, feitos a partir de escavações verticais, foram destruídos por adeptos do grupo terrorista. Rodrigo explicou que as as destruições desses patrimônios vão além de serem apenas uma consequência da guerra, “quando o Estado Islâmico destrói um patrimônio cultural e histórico ele quer com isso fazer com que as pessoas vaguem num mar sem fim e sem nenhum tido de referência, para então ele se impor como referencial único,” expressou-se o historiador. Com a decorrência desse ato, o ser humano acabaria por acatar qualquer tipo de identidade. 

A cidade de palmira foi uma grande perda para a história mundial, ela se destacou durante o Império Romano quando foi um ponto de passagem fundamental do comércio entre o mar mediterrâneo e o extremo oeste. 

Perder essa herança histórica e cultural é como perder uma documentação sobre o modo de vida de culturas antigas. Rodrigo também comentou sobre as perspectivas para o futuro do povo sírio em relação a essas perdas,  “olhando para o futuro, podemos nos ver como um povo sem herança cultural, um povo sem objetivo e sem motivos para criar ou recriar qualquer coisa.”

Ban Ki-Moon, antigo Secretário da ONU, durante seu mandato declarou que a destruição dos patrimônios históricos é um crime de guerra. Um ato pode ser definido como crime de guerra a partir do momento em que uma das partes em conflito ataca voluntariamente objetivos, tanto humanos quanto materiais. 

O internacionalista Nicholas Rorato ponderou se seria correto avançar as ações militares contra o Estado Islâmico, entretanto, ao seu ver as vias diplomática são sempre a solução mais eficiente e menos onerosas para a manutenção da vida. Nicholas também considerou que, por vezes, o lucro e a ganância se sobrepõe ao bem geral. “Porém, se de alguma maneira as vias bélicas podem trazer algum tipo de ganho econômico, pouco importa o que os analistas têm a dizer,” finalizou. 

Os conflitos na Síria, infelizmente, estão longe de acabar, o futuro dos sírios é incerto, em consonância com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, há em torno de cinco milhões de refugiados vivendo em países como Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia. 


Já na América Latina, o Brasil é um dos destinos mais procurados pelos cidadãos que fogem da guerra. Como é o caso de Mazen Zwawe, que mora no Brasil há 3 anos e perdeu todo o seu patrimônio para o Estado Islâmico. Mazen tinha um restaurante na Síria e um dia os terroristas invadiram o seu restaurante e o bombarderam. “Graças a Deus que não tinha ninguém dentro, só funcionário, só perdi o restaurante mesmo,” testemunhou o sírio. 

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